DIÁRIOS NA WEB
Eu
andava supercurioso a respeito dos blogs. Para quem não sabe, é uma espécie de
diário que alguém coloca na internet, em geral assinado por pseudônimo.
Liberdade total. Alguns comentam sobre a vida. Outros revelam intimidades de
arrepiar! Recentemente, um amigo me forneceu o “endereço” de seu blog. Fui ler.
Lá pelas tantas, ele falava de nosso último almoço. Concluía que nossa amizade
estava no fim! Liguei imediatamente:
- Eu não briguei com
você, briguei?
Esclarecemos o
mal-estar. Aproveitei para saber como localizar outros blogs. Adolescentes
sabem fazer isso de olhos fechados. Mas um velhusco como eu tem certa
dificuldade. Descobri endereços que abrigam uma enormidade de blogs! Como uma
grande biblioteca onde se pode entrar, escolher o livro e abrir. Mas é a vida
real! Infinitamente verdadeira. Sou do tempo em que ainda se fazia diário com
chavinha! Imaginem a chance de ler quantos quiser! [...]
[...] Alguns são
divertidos já no título, como o “Pensar enlouquece. Pense nisso”. Um rapaz
adverte: “Perdi os óculos. Isso quer dizer que estou mais perigoso no
trânsito”.
São relatados todos os
tipos de experiências, até as sociológicas. Uma garota foi entrevistar camelôs
para entender o mundo dos excluídos. Quase caiu dura ao descobrir que o
primeiro com quem falou tinha o segundo ano de faculdade de Filosofia! Mais
tarde, outro lhe explicou longamente a contradição entre capital e trabalho, na
melhor retórica marxista. De queixo caído, a estudante descobriu que excluída
estava ela. Da realidade. Outra reage contra o mito da Cinderela. “Foi por
causa dessa besta da Cinderela que acreditei em príncipe encantado!”, reclama.
Em busca do tal príncipe, aos 27 anos já se casou três vezes! Uma internauta
reflete: “Qual é a hora certa de romper uma amizade, de terminar um amor?”
“Emoções e Magias”
oferece receitas do tipo: “Para Realizar um Desejo... pegue uma folha de papel
branco e...” Fiquei tocado pela mensagem otimista de uma garota que viveu nos
Estados Unidos, onde trabalhou como babá. Ao voltar, não conseguia emprego.
Finalmente, comemorava um lugar como secretária. “Meu Futuro me acena sorrindo
e eu aceno de volta para ele. Não tenho certeza, mas acho que estamos
namorando.”
Tal é o sucesso dos
blogs que o autor de “Escrevescreve” assusta-se: “Foram mais de trezentos
acessos só esta tarde. Será que foi alguma coisa que eu escrevi?”
Saí fascinado do
passeio pela web. Acredito que os blogs são uma grande revolução. Sei de gente
que tem amigos de outros estados, com quem compartilha de todas as intimidades
– e haja intimidade nisso! Sem nunca terem se conhecido pessoalmente! Será uma
nova forma de amizade? No futuro, todo relacionamento vai ser assim?
WALCYR CARRASCO.
In: MANUEL DA COSTA PINTO (Org.). Antologia
de crônicas: crônica brasileira contemporânea. São Paulo: Salamandra, 2005.
(Lendo & Relendo.) (Fragmento.)
1. Atividades:
Segundo o texto, o
narrador - personagem tinha grande interesse em conhecer os blogs.
a.
Como se explica essa atração do autor por blog?
b.
No primeiro parágrafo, o que comprova que o narrador ainda não entendia
muito bem como utilizar o blog?
2. Porque ele comparou
os blogs a uma grande biblioteca?
a.
Explique o que o autor quis dizer nesse trecho: “Mas é a vida real!
Infinitamente verdadeira”.
b.
Como pertence a outra geração, o narrador também comparou o diário
antigo com o blog, um diário moderno. A que conclusões ele chegou?
3. Na sua opinião,
porque muitos jovens gostam de se expor abertamente em seus blogs?
4. Pode-se dizer, por
exemplo que a garota aprendeu algo ao entrevistar camelos? Esclareça sua
resposta.
5. Você saberia dizer
qual é a hora certa de romper uma amizade, de terminar um amor? Justifique-se.
6. Ao comentar o
conteúdo de certo blogs, o narrador parecia admirado pela variedade das
mensagens.
a.
A seu ver ele se sentia de verdade impressionado com os blogs, ou apenas
curioso? Esclareça sua resposta.
b.
Você também considera os blogs uma grande revolução?
7. No texto, o autor
enfatiza o fato de que nos blogs se encontram todas as intimidades. Porque esta
intimidade o surpreende tanto?
8. Nas duas perguntas
finais do texto, o que pode depreender quanto ao modo de pensar do autor?
E você, o que pensa sobre
essa nova forma de relacionamento humano?